O assunto que irei tratar hoje é a diferença entre resultado econômico e resultado financeiro, lucro versus geração de caixa. Muitos pensam que o resultado positivo entre os recebimentos e pagamentos efetuados é o lucro do período, mas não é verdade. Pode-se entender o lucro, basicamente, como sendo o resultado positivo entre as receitas e despesas de um período, mas isso não significa que todo pagamento efetuado seja uma despesa e que todo recebimento seja uma receita. Do mesmo modo, nem toda despesa representa uma saída imediata de caixa e nem toda receita uma entrada.
O motivo dessa diferença está na existência de dois regimes diferentes de reconhecimento das receitas e despesas, o regime de caixa e o regime de competência. No regime de caixa, toda receita é reconhecida no momento do recebimento e toda despesa no momento do pagamento. É utilizado nos fluxos de caixa. No regime de competência, as receitas são reconhecidas no momento em que são realizadas, independente do recebimento, e as despesas no momento em que são incorridas, independente do pagamento. É oriundo de um dos princípio básicos da contabilidade, o princípio da competência, e é utilizado na DRE (Demonstração de Resultado do Exercício), que demonstra se a entidade teve lucro ou prejuízo no período apurado.
Para exemplificar, vamos aproveitar o exemplo apresentado na última postagem do blog (quem não leu acesse o link: http://falandocontabilmente.blogspot.com.br/2015/03/qual-e-margem-lucro.html). No exemplo citado apuramos o ponto de equilíbrio e verificamos que seria de 25 mil reais, pois supomos que toda a mercadoria comprada seria vendida e que todas as compras e todas as vendas foram à vista, portando o lucro seria zero (resultado econômico), e o resultado financeiro também seria zero. Agora, vamos supor que somente 70% das mercadorias adquiridas foram vendidas, ou seja, 700 unidades, qual seria o resultado econômico e qual seria o resultado financeiro? Vamos aos cálculos:
Resultado econômico:
Obedecendo ao princípio da competência e confrontação de receitas e despesas correlatas, somente o custo das mercadorias que foram vendidas serão reconhecidas, então temos: 700 unidades x custo unitário de R$ 10,00 = R$ 7.000,00. Esse é o CMV (Custo das Mercadorias Vendidas). O total de receitas foi: 700 unidades x preço de venda unitário de R$ 33,00 = R$ 23.100,00. Agora diminuindo o CMV do total de receitas temos o lucro bruto: R$ 23.1000,00 (-) R$ 7.000,00 = R$ 16.100,00. Diminuindo do lucro bruto as despesas operacionais (supondo que elas foram todas incorridas e pagas no período) temos o lucro ou prejuízo do período: R$ 16.100,00 (-) R$ 15.000,00 = R$ 1.100,00. Lucro de mil e cem reais.
Resultado financeiro:
Conforme regime de caixa, serão reconhecidos todos os pagamentos e recebimentos. Temos, portanto, a compra de mil unidades de mercadorias por 10 reais cada, à vista, totalizando R$ 10.000,00 e a venda de 700 unidades de mercadorias por 33 reais cada, também à vista, totalizando R$ 23.100,00. Temos R$ 23.100,00 de entradas de caixa (-) R$ 10.000,00 de saídas, resultando em R$ 13.100,00 positivos. Diminuindo as despesas operacionais pagas, temos: R$ 13.100,00 (-) R$ 15.000,00 = (-) R$ 1.900,00, ou seja, 1.900 negativos. O que significa um "prejuízo financeiro" ou um consumo de caixa no período de R$ 1.900,00. A empresa, caso não mantivesse um capital de giro ou reservas em caixa, teria que fazer um empréstimo para conseguir pagar todas as despesas do período, mesmo auferindo lucro.
O resultado econômico demonstra que as operações da empresa no período foram eficientes, que as receitas superaram as despesas resultando em lucro. E o resultado financeiro demonstra que as operações da empresa consumiram um caixa de 1.900 reais. Demonstra também que o lucro auferido ainda não "virou" caixa, ainda não "virou" dinheiro, e que para uma melhor saúde financeira seria interessante que a empresa tivesse comprado à prazo, pois dessa forma não seria necessário fazer empréstimo.
Se os resultados fossem invertidos, com um prejuízo de R$ 1.100,00 e com uma geração de caixa de R$ 1.900,00, a interpretação seria diferente. O resultado econômico estaria sinalizando ao empresário que algo errado aconteceu no período de apuração, levando-o a rever, por exemplo, a política de preços, de vendas, rever os custos e despesas etc. O resultado financeiro poderia levar o empresário a pensar que houve lucro e que esse pode ser distribuído, quando na verdade a empresa operou no prejuízo e os R$ 1.900,00 de caixa gerados podem ser referentes a alguma parcela ainda não vencida de alguma compra a prazo, por exemplo, e neste caso ao se distribuir esse valor não estariam distribuindo lucro e sim dívida, correndo o risco da empresa não possuir liquidez para quitar a dívida no futuro, caso não mantenha capital de giro ou reservas em caixa, tendo que recorrer a empréstimo da mesma forma que no primeiro exemplo. Portanto, a análise de ambos os resultados são importantes para a boa gestão de uma empresa.
Obs: O resultado econômico descrito aqui difere do conceito de Lucro Econômico. O resultado econômico descrito demonstra o lucro contábil do período. Lucro econômico é representado, basicamente, por receitas (-) custo de oportunidade total, entendendo-se custo de oportunidade total por gastos explícitos totais mais "gastos" implícitos totais.
Até a próxima!
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